Essa objeção foi enviada por um internauta
protestante, que ao analisar um de nossos argumentos, afirmando crer que a
resposta adequada demandaria complexa formulação, solicitou-me uma resposta
detalhada às seguintes questões:
Primeira objeção – “Se maria era pura e imaculada/sem
pecado, e se de acordo com você, o puro não pode vim do impuro[1] ,
isso gera um grande problema: como sustentar essa pureza de Maria?”
Segunda objeção – Dizer que ela era pura vai levar a
um argumento ad eternum [2],pois
se o puro não pode vir do impuro, logo você vai ter que defender uma linhagem
santa que chegue até Maria, pois a mãe e pai dela tiveram que ser puros
também[3],
e por aí vai gerando uma linhagem santa.”
Terceira objeção – “Ora, se tem uma linhagem santa,
como pode se são descendentes de Eva e Adão que pecaram? E se nega essa
linhagem, necessariamente você vai ter que dizer que Maria era impura e passou
a ser pura, pois ela veio de um ventre impuro, mas em algum momento se torna
pura para conceber Cristo.[4]
Nessa ótica, não vejo escapatória, ou Maria é impura inicialmente até se
santificar, ou você vai ter que defender uma geração de puros até Cristo.”
Conclusão e conjectura de toda a objeção
(definido pelo internauta como resumo da dúvida) – Há ainda a possibilidade de Maria
ter pai e mãe comuns ou seja impuros, porém foi concebida de forma pura, no
entanto essa possibilidade inutiliza a própria Maria, pois se pode haver
concepção pura, então porque Cristo precisaria de uma mulher pura para nascer? Eu
simplesmente não entendo[5],
acredito que Maria era necessariamente uma pecadora, mas que atingiu algum grau
de santidade.
Resposta à Primeira objeção:
Como já argumentamos, as premissas da
Fé Católica estão baseadas em um tripé, onde as Sagradas Escrituras encabeçam
os nossos dogmas e doutrinas.
No
entanto não procuramos na Bíblia argumentos explícitos, a Sagrada Tradição nos
ensinou a enxergar igualmente os detalhes implícitos, assim sendo, quero citar
dois textos que nos norteiam para discutir e fomentar o Dogma da Imaculada
Conceição:
Vestígio Bíblico a) Lucas 1,28 “E entrando o anjo disse
alegra-te CHEIA DE GRAÇA”, aqui ao recorrermos ao original (grego) temos
o tão emblemático Kekaritomene, há uma completude da Graça de
Deus pois está associado à ??????? (Completude de Graça, com estado permanente,
invariável), mesmo assim a Enciclopédia nos lem3bra que esse versículo por si
só não prova o Dogma, mas já o fomenta.
Vestígio Bíblico b) Está justamente na objeção citada pelo
internauta: “Quem fará sair o puro do impuro? Ninguém” Jó14,4. Se analisarmos o
contexto geral nesse ponto o texto está focado na impureza e na miséria do
homem e justamente tem como claro objetivo mostrar que é impossível haver uma concepção humana sem mancha, o que ao meu ver
seria um apoio à objeção protestante e não um argumento em favor do dogma da
Imaculada Conceição. No entanto ele abre a reflexão: DEUS PODERIA ABRIR UMA
EXCEÇÃO? E fazer desse versículo um argumento que também fomenta o Dogma ao
invés de somente confrontá-lo?
Para isso precisamos provar
biblicamente que Deus abre exceções.
Prova única e suficiente: Em Romanos 3,23, texto muito utilizado
pelos protestantes, temos: “Todos pecaram e estão destituídos da Glória de
Deus”. Aqui o texto é enfático: TODOS. Ao encontrarmos na Bíblia um
outro texto que englobe totalidade de pessoas, com a brecha de uma exceção;
essa análise fundamentalista da palavra “TODOS”, é automaticamente refutada.
E é justamente o que acontece com o texto de Hebreus 9,27: “Todos estão
destinados a morrer uma só ver e logo depois vem o juízo”. Abonando esse
raciocínio, em João 11,25 vemos que Lázaro morreu duas vezes, pois ali recebe o
milagre da ressurreição.
E diante dessa prova única, a pergunta do
internauta não poderia ser confrontada com outra? Segue minha sugestão: “Como
provar biblicamente que Maria era pecadora?” E ainda mais abrir o caminho
para a resposta resumida a toda questão: “Não há pecado em Maria porque Deus
quis assim, ao divinamente
considerar que seu Filho Unigênito,
SANTO, não poderia ser gerado no ventre de uma mulher maculada pelo pecado” .[6]
Ao tentar explicar a pureza de Maria e certamente munido de questionamentos
externos, Beato John Duns Scotus disse: “Potuit, decit, ergo fecit” Podia
fazer, convinha que o fizesse, então fez”, por fim concordamos com esse
santo da Igreja.
Resposta à Segunda e a Terceira objeção:
Visto o exposto do que nomeei de prova
única no último item, devemos entender que aqui estamos tratando de uma
exceção, o alvo dessa supra graça ou milagre é MARIA, mas a causa é outra
pessoa: JESUS, Deus realiza a Imaculada Concepção não para honrar ou engrandecer
Maria, mas sim para gerar dignamente, humanamente e divinamente Nosso Senhor
Jesus Cristo, sem nenhuma premissa ligada à transgressão. Então é prudente
agora irmos à promulgação do DOGMA, pois no texto do veredicto dogmático
teremos a resposta a essas objeções, o que poderia resumir o grifo de número 6:
A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro
instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente,
em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada
imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e
por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.
Resposta a Conclusão e conjectura de
toda a objeção:
Resta
a necessidade de responder ao argumento (mesmo sem ter sido apontado pelo
questionador) de que Maria disse ter um salvador (cf. Lucas 1,47), onde os
acusadores podem afirmar: “Ora se Ela precisou de Salvação, então nasceu
pecadora”.
A
resposta é muito simples: enquanto nós fomos salvos por regeneração, ou seja,
após a nossa queda, ela, foi salva por preservação. Pode assim por fim restar a
última objeção: “Mas Deus não realiza tal feito em ninguém”. Teremos então que
tentar argumentar contra o texto sagrado: “Àquele, que é poderoso para nos preservar de toda queda e nos apresentar
diante de sua glória, imaculados
e cheios de alegria, ao Deus único, Salvador nosso, por Jesus Cristo, Senhor nosso, sejam
dadas glória, magnificência, império e poder desde antes de todos os tempos,
agora e para sempre. Amém. (Judas 1:24,25). Em Maria se dá essa aplicação
em completude e a concretização dessa Palavra.
Minha conclusão:
É eminente ver
então um empate entre católicos e protestantes nesse debate? A Bíblia não
mostra explicitamente a Imaculada Conceição, mas também não mostra o pecado de
Maria. A Bíblia não mostra explicitamente o momento em que Deus o faz, mas
também não mostra essa impossibilidade. Resta então o que sempre será para nós
o crivo da verdade: A Igreja, sustentáculo e coluna da verdade (cf. I Tim
3,15), versículo indelével, que apavora os protestantes, sendo que por ele,
deveriam se emendar.
Ressalta-se
que há na Patrística um fenômeno, pais da igreja que, hora abonam um fato e
hora o questionam, e por fim voltam a abonar; foi o que aconteceu por exemplo
com São Jerônimo no tema: cânon das Sagradas Escrituras. Por isso embora nós
citemos os pais da Igreja; essas citações devem “desaguar” e findar em
definições dogmáticas e/ou doutrinárias, contidos no Magistério da Igreja, isso
só se dá pelos seus sagrados concílios.
Então findamos
nossa argumentação com os pais da Igreja, salientando aqui que o fizemos também
nas sagradas escrituras embora como já dito sugeriu-se um empate em relação aos
argumentos do questionador, agora resta o critério que temos a mais com o
intuito do desempate:
“Esta Virgem Mãe do Unigênito de Deus, é chamada Maria, digna
de Deus, imaculada das imaculadas, uma do uno.” Orígenes, Homilia 1 (244 d.C.).
“Tu somente e tua Mãe são em todas as coisas justos, não há
falha em ti e não há mancha em tua Mãe.” Efrém, Hinos Nisibenos 27:* (370 d.C.)
“Maria, uma Virgem não apenas incorrupta, mas uma Virgem que
a graça fez inviolável, livre de qualquer mancha do pecado.” Ambrósio, Sermão
22, 30 (388 d.C.).
“Nós devemos abrir exceção para a Santa Virgem Maria, sobre
quem eu não quero levantar questão quando falamos sobre pecados, para honrar o
Senhor; pois dele nós sabemos qual abundante graça para superar o pecado em
cada um particularmente foi conferida sobre ela que teve o mérito de
concebê-l’O e gerá-l’O que sem dúvida não tinha pecado.” Agostinho, Natureza e
Graça 4, 36 (415 d.C.)
“Ele a fez sem mancha dela mesma, assim Ele procedeu dela sem
contrair mancha.” Proclo de Constantinopla, Homilia 1 (antes de 446 d.C.).
“Uma virgem, inocente, impecável, livre de todo defeito,
intocada, incorrupta, santa de corpo e alma, como um lírio brotando entre
espinhos.” Teodoto de Ancira, Homilia 6, 11(antes de 446 d.C.).
E
por fim a minha preferida, do Doutor Angélico Tomar de Aquino na Expositio
Salutationis angelicae:
“Ela é puríssima também quando a culpa, pois não incorreu em
sua vida nem o pecado original, nem mortal, nem venial”.
O questionador deixa uma última pergunta à qual
quero responder com outra:
Questionador: “Se eu posso crer em concepção
pura? Porque Deus não fez Cristo ser concebido puro? Porque preciso de Maria
então?”
Minha resposta: “Se Deus não quis precisar de
Maria, porque Ele não desceu do Céu direto sem se encarnar no ventre Dela? E já
que o Verbo se fez Carne, Ele o faria por meio de uma Carne contaminada pelo
pecado?”
“Que união pode haver entre Justiça e
Iniquidade? E que comunhão entre Luz e trevas?” II Coríntios 6,14
Viva
a Imaculada Conceição!
Em
13 de Maio de 2024 no dia de Nossa Senhora de Fátima
Seu
Irmão